quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Avenida Boa Viagem, 15h30

 / Foto: Luiz Pessoa
Foto: Luiz Pessoa
"Meu filho, eu tive uma vida difícil. Desde muito cedo eu me virei sozinha, deixei meus familiares no Sertão do Araripe porque engravidei cedo e não era casada. Capinei roça, limpei casa, fui de tudo um pouco. Eu já perdi as contas, mas acho que vim para a cidade tem uns 25 anos. Vim tentar fazer algum dinheiro para sustentar três filhas, mas tudo é muito difícil quando você não tem um amigo. Trouxe minhas meninas pra cá quando consegui um emprego de doméstica e um lugarzinho pra dormir, mas pouco tempo depois fui demitida porque minhas pernas doíam muito e não conseguia ficar a toda hora em pé. Eu morava num barraquinho lá por trás do Shopping Recife. Um dia que fui pedir dinheiro na Avenida com minhas meninas, voltei e não tinha mais nada, tinham arrombado e levado tudo. Aí tive vontade de morrer, mas olhei pros olhos da minha filha mais nova e lembrei que sem mim, todas elas estariam na mesma condição que um dia eu estava".  

Maria Aparecida dos Santos, 64 anos

SOBRE A SIGA A RUA
O submundo que nos rodeia é algo que passa desapercebido por muitos. O intuito desta coluna é mudar essa perspectiva. O universo da rua é algo prolixo e controverso, das belezas arquitetônicas erguidas às histórias pessoais mais diversas, de amor, ódio, desprezo, loucura e desapego.

Tenho conversado com pessoas que retratam narrativamente essa vida sofrida e extraio dessas conversas seus pontos cruciais de externação sobre estas experiências, às vezes tão sórdidas e amargas, que me remetem a uma reflexão interna. É isso que quero trazer; uma contemplação de uma realidade dura e crua que nos fortaleça mediante às adversidades.

Os textos que posto a seguir são verídicos, histórias narradas e gravadas que uso como base para a minha pesquisa. Muitos são abordados por curiosidade e empatia, outros quase que ao acaso. Não escrevo conclusões por achar que o leitor sentirá a necessidade de fazer por si próprio. Agradeço a todos que lerem e se sentirem atraídos pela proposta deste veículo e, se se sentir à vontade, utilize a hashtag #sigaarua nas redes sociais, para que possamos disseminar esse conteúdo e que todos vejam a realidade que nos circunda e continua, até então, invisível.
*As colunas assinadas não refletem, necessariamente, a opinião do NE10

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.