quinta-feira, 11 de junho de 2015

Idosos redescobrem o amor em abrigo do Recife

Maria Luiza VeigaDo NE10
Casal faz planos para morar junto ainda neste ano / Foto: Maria Luiza Veiga/NE10
Casal faz planos para morar junto ainda neste anoFoto: Maria Luiza Veiga/NE10
A história de amor de Heloísa e Edmílson contraria as probabilidades. Além de já passarem dos 60 anos, os enamorados se conheceram - e se apaixonaram - num abrigo municipal para idosos do Recife. O casal - formado por Edmilson Machado (64) e Heloísa Alencar da Silva (72) - já está namorando há um ano e hoje vive a fase do noivado.
O romance dos dois é digno de cinema; assim que a viu, no abrigo Lar Porto Seguro, no bairro da Iputinga, Edmilson conta ter se apaixonado de cara. Heloísa chegou ao abrigo em 2012 com o marido que, em janeiro de 2014, faleceu. Com a viuvez, surgiu um novo amor. "Ele era meu amigo, mas Deus levou, né? Ela sozinha, eu também viúvo, ai a gente deu certo", conta Edmilson.
"Tome pra você ficar segura", disse o apaixonado
"Tome pra você ficar segura", disse o apaixonadoFoto: Maria Luiza Veiga/NE10
Na época, ambos viviam no Lar Porto Seguro, mas meses depois do começo do romance, por questões organizacionais, Edmilson foi transferido para o Espaço Ieda Lucena, no Cordeiro, também financiado pela Prefeitura da Cidade do Recife (PCR).
Hoje os encontros acontecem com data marcada: toda terça-feira é dia dos dois se verem. Nesse dia,  Heloísa se apronta: usa brincos grandes, pulseira, perfume. O carro do próprio abrigo realiza a locomoção do Edmilson na visita. "É muito ruim estar distante assim", ela argumenta quando questionada sobre as vantagens desse "namoro à moda antiga", no qual as visitas são marcadas com dia e hora certinhos.
O casal tem planos de se casar ainda neste ano, quando, enfim, poderão dormir juntos - mesmo quando moravam no mesmo abrigo, eles dormiam separados: ele, num dormitório masculino; ela, num feminino. Segundo Edmilson, só resta sua aposentadoria ser liberada para que eles possam se mudar para um cantinho só deles.
"Começamos a conversar e chegamos nesse ponto. Dei logo a aliança dela: "Tome pra você ficar segura", eu disse. Agora você vai esperar eu me aposentar pra poder a gente viver. Comprar uma casinha, ter um apoio. O meu (dinheiro) com o dela já dá uma força", diz o apaixonado. 
Encontros acontecem com data marcada: todas as terças-feiras os dois ficam juntos
Encontros acontecem com data marcada: todas as terças-feiras os dois ficam juntosFoto: Maria Luiza Veiga/NE10
Mas nem tudo é um mar de rosas no relacionamento. Mesmo com o "namorado a distância", há o ciúme, o vilão de todos os apaixonados que, de fato, não se restringe à idade.
Heloísa não assumiu sentir ciúme, porém, a chefe do setor de acolhimento do Lar Porto Seguro, Elizabeth Silva, conta que há um "ciuminho" de Rosalina, de também 64 anos. Pivô do ciúme, a idosa brincalhona conta ter sido direta nas suas intenções quanto aos homens do abrigo: "Eu disse para todo mundo ouvir: eu não quero ninguém daqui! Se juntar com liso é pedir esmola para dois", reproduz ao risos. Já Edmilson se diz tranquilo e prezar pela confiança entre os dois: "Eu não tenho ciume não, eu confio em Heloísa. Ela deve confiar em mim também". 
O amor de Heloísa e Edmilson não é o único registrado em abrigos de idosos do Recife. Elizabeth lembra de outro caso de amor no Lar Porto Seguro: "Eles se conheceram na casa também. Ele tinha uma vontade muito grande de casar, de ter uma mulher. Era bem paquerador e namorador, não podia ver uma mulher que já ia brincar. Quando chegou essa nova idosa na casa, o amor desabrochou", conta. "De vez em quando tinha uns pegas, uns amassos que a gente dizia "Eita, acalma aí! A casa é coletiva não, é só de vocês não!"", brinca Elizabeth. 
Esse casal foi morar junto, já que conseguiu renda e não poderia viver no abrigo - ou sequer consumar o casamento -, tendo em vista que o local, por ser financiado pela PCR, não é pago e é destinado a pessoas vindas das ruas ou que sofram maus tratos em casa. O casal contou com o auxílio dos funcionários do local que compraram os móveis da casa. "Isso é muito bom! Você ver o idosos constituírem uma família de novo, terem sua casa, seu espaço, sua independência. E a gente está aqui para isso, para ajudar", comemora Elizabeth.

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