segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

“2015 não foi ano perfeito, mas foi o ano possível”

O governador Paulo Câmara está prestes a completar um ano no cargo. Doze meses, segundo o gestor, extremamente difíceis, marcados por uma crise econômica e política como não se via há décadas, que teve impacto na vida dos brasileiros, em geral, e nos projetos que planejava colocar em prática para os pernambucanos, em 2015. Mas com a calma e com a sinceridade que têm se tornado uma espécie de marca registrada, admitiu que não iria esconder “nada de ninguém”. Reconhece que trabalhou incansavelmente, mas que não conseguiu o resultado projetado para muitas áreas, a exemplo da Segurança e da Saúde. No encontro realizado no Palácio do Campo das Princesas com a equipe da Folha, o governador também falou sobre o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff; dos escândalos deflagrados pela Operação Lava Jato – que tiveram desdobramentos em Pernambuco – e do que poderá, de fato, realizar em 2016. Outro ano, segundo Paulo, no qual que será preciso, novamente, cortar na carne, rever metas e enxugar gastos para poder governar minimamente. No meio desse vendaval, muito otimismo e deteminação. “Minha preocupação é 100% com os assuntos do Estado”. Leia abaixo a entrevista.
O senhor tem relatado diversas dificuldades, desde que assumiu o Governo de Pernambuco. Neste “pacote de crise”, quanto tem de “dedo” da presidente Dilma? Dá para estimar o quanto o governo federal atrapalhou sua administração?
Veja, para o resultado econômico de Pernambuco, a gente pode dizer que os erros dos últimos anos do Governo Federal foram fatais. Não apenas para os resultados econômicos de Pernambuco como os resultados econômicos do Brasil. As medidas adotadas nos últimos anos têm causado recessão, ampliaram o desemprego e a inflação. Mas nós, também, não podemos negar que os acertos ocorridos no governo Lula ajudaram Pernambuco a se desenvolver o tanto que se desenvolveu. Mas a crise do setor elétrico foi fundamental para que a gente ficasse com a inflação do jeito que está. A crise da Petrobras, que vai desde a corrupção até a gestão em si, é um dos grandes responsáveis pelo aumento do desemprego no nosso Estado, que tem dois grandes empreendimentos que estão devidamente vinculados à Petrobras, que são a Refinaria Abreu e Lima e os estaleiros. A forma equivocada de se gastar mais, nos últimos anos, mostrou, claramente, um desajuste das contas públicas, que está levando a essa recessão e à falta de confiança. O Brasil, hoje, está sem confiança de investir e a falta de confiança gera expectativas negativas e expectativas negativas geram um componente importante na tomada de decisões, no crescimento do País.
O senhor, então, considera que todos os problemas atuais são resultados do governo Dilma, sem herança de Lula?
Não. As operações mostram que a corrupção é uma marca do nosso País. Já vem de um certo tempo. Agora, o Governo Lula cumpriu seu dever de casa, manteve em dia as contas públicas, com um ambiente econômico favorável, até a crise de 2008. Na crise de 2008, ele fez uma política anticíclica, que foi exitosa, que fez com que o Brasil sofresse muito pouco da crise de 2008 em 2009. Tanto é que o Brasil voltou a crescer de maneira muito clara em 2010, atingindo o nível que atingiu. O “senão” começa a partir de 2011, porque os indicadores começam a mostrar que se precisava de alguns ajustes, essa política anticíclica e de desoneração precisava ser revista, em muitas áreas, só que isso não foi feito nem em 2012, nem em 2013, nem em 2014, e precisou ser feita em 2015, dentro de um cenário muito mais complicado do que se tivesse começado desde 2012.
O senhor se arrependeu de ter assinado a Carta pela Legalidade, em apoio a DIlma, após reunião no Planalto, no último dia 8 de dezembro?
Eu não me arrependo, porque eu não defendi o governo Dilma, eu nunca defendi. Eu defendi as instituições, o cumprimento da Constituição, do impeachment como está previsto nela. Eu não votei na Dilma. Eu faço parte dos 30% de pernambucanos que não votou nela e fui para rua apoiar Eduardo Campos, depois apoiei Marina, depois apoiei Aécio Neves. Eu tenho uma posição muito clara quanto a isso, eu apoio a independência do partido, eu nunca apoiei medidas do governo federal que eu não concordasse. Então, eu sempre fiz uma leitura muito racional dessa questão, tenho uma função institucional. Enquanto governador, não vou deixar de procurar a presidente. Sempre que precisar, vou procurar, como procurei agora, nessa questão da microcefalia e do zika. Nunca, também, vou deixar de ouvir, quando for chamado, e fui chamado dentro de um contexto. Essa reunião com a presidente foi uma explicação técnica sobre a pedalada. Naquele momento, foi lida uma carta em defesa das instituições e contra a forma que o processo de impeachment foi apresentado ao Congresso, numa clara sinalização de chantagem por Eduardo Cunha (presidente da Câmara). E eu concordei que foi um processo de chantagem de Eduardo Cunha.
O senhor acha, então, que o processo contra a presidente é meramente político? 
O que é que a gente vê no processo de impeachment? Ele foi instaurado em cima de pedaladas fiscais, mas todos nós sabemos aqui, que ele vai ser julgado em cima de um contexto político. Pois quando a gente analisa, simplesmente, o julgamento das pedaladas, há muitos questionamentos jurídicos. Não há uma unanimidade, uma ampla maioria, em dizer que as pedaladas são fator de crime de responsabilidade. É um julgamento político.

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