No primeiro depoimento em um dos processos que pesam contra ele, de obstruir as investigações da operação Lava Jato, o ex-presidente Lula recorreu, ontem, à estratégia da vitimização, afirmando que vem sofrendo um massacre da mídia. Lula se preparou longamente para passar no seu primeiro interrogatório como réu, mas quando entrou na sala de audiência da 10ª Vara Federal de Brasília, parecia bastante nervoso.
Vestindo terno escuro, camisa lilás e sua habitual gravata com as cores da bandeira do Brasil, Lula tirava e colocava a tampa da caneta azul que estava em suas mãos, passava a língua sobre os lábios secos e penteava o bigode com o dedo indicador direito. Quem o conhece sabe que esses são sinais particulares do nervosismo do petista. Logo nos primeiros minutos do depoimento, fez um desabafo e afirmou que acordava todos os dias com medo de jornalistas estarem na porta de seu apartamento, em São Bernardo do Campo (SP), esperando sua prisão.
"Você sabe o que é levantar todo dia achando que a imprensa está na porta de casa porque eu vou ser preso? É porque não sei quem delatou, 'o Lula vai ser preso'. Eu tenho dito, antes, durante e depois, os [acusados] que estão presos e os que vão ser presos, que tenha um empresário, um político que tenha coragem de dizer que um dia me deu R$ 3, que tenha coragem de dizer que um dia o Lula pediu cinco centavos para ele", disse ao juiz Ricardo Augusto Soares Leite.
Ele disse, textualmente, que sofre "perseguição" nas investigações que apuram o esquema de corrupção da Petrobras e que há alguém "instigando" que delatores falem seu nome nos acordos de colaboração com a força-tarefa da Lava Jato. "Por tudo o que eu vejo na imprensa, eu acho que tem alguém instigando [delatores] para falar do meu nome. Fico sabendo dos blogs, colunistas, 'cita o nome do Lula, cita o nome do Lula'."
O ex-presidente pediu ainda ao juiz que sejam apresentadas "provas" de supostos crimes cometidos. "Chamar o PT de organização criminosa. Se dependesse de mim, cada parlamentar abriria um processo para provar qual é a quadrilha. Eu estou cansado, 71 anos de vida, eu cansei. As instituições que eu ajudei a valorizar [são agora] desprestigiadas por comportamento pessoal”, afirmou.
Lula também ironizou o comportamento do ex-senador Delcídio do Amaral, que concedeu diversas entrevistas após ter assinado um acordo de delação premiada na Lava Jato. "Parecia que ele tinha recebido o 'Prêmio Nobel da Delação'. Ele foi no [programa de TV] 'Roda Viva'. Depois que faz a bobagem que faz, se é que fez, ele queria jogar no colo de alguém", disse Lula. Sem citar o nome do presidente Michel Temer, Lula também brincou sobre a baixa popularidade do peemedebista. "O presidente não tem coragem de ir à Bolívia. O país que era motivo de alegria."
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