Um dos principais equipamentos de segurança no trânsito, o capacete ainda é um item esquecido por muitos motociclistas. Uma pesquisa da Universidade de Pernambuco (UPE), realizada dentro das três principais emergências de trauma do estado, mostrou que de cada 10 motociclistas vítimas de acidentes, quatro não estavam usando o equipamento na hora da queda. E, dentre aqueles que usavam, a maioria adotou um modelo que não oferece proteção adequada, impactando diretamente na gravidade dos acidentes.
A análise foi realizada com base em prontuários e entrevistas feitas com 249 motociclistas internados nos Hospitais da Restauração (HR), Getulio Vargas (HGV) e Regional do Agreste (em Caruaru), entre agosto de 2016 e agosto de 2017. Depois de coletar dados como sexo, faixa etária, uso de habilitação, potência da motocicleta, entre outros, os pesquisadores traçaram um perfil das vítimas de traumatismo facial em acidentes com moto no estado.
Percebeu-se que a imprudência é maior entre homens jovens, pois 90% das vítimas eram do sexo masculino e 56% tinham entre 18 e 29 anos. Quanto ao uso do capacete, 59,4% afirmaram que usavam o equipamento. Porém, os tipos mais citados foram “aberto sem viseira”, com 19% das menções, e integral com viseira, escolhido por 16%. A diferença expõe o risco a que essas pessoas se submetem, já que durante uma queda de moto a vítima bate o rosto em diferentes posições.
Apesar de o segundo modelo ser mais seguro, os motociclistas usaram como argumento para escolher o primeiro o valor econômico e a proporção de uma melhor visibilidade. “Queríamos provar que o motociclista que usava capacete aberto tinha fraturas mais complexas, porém 40% dos pesquisados sequer usavam o equipamento”, explica a cirurgiã Buco-Maxilo-Facial e editora-chefe da Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CBCTBMF), Gabriela Granja Porto, orientadora do estudo. Dos pacientes que não usavam capacete, a pesquisa mostrou que em mais da metade o nível de complexidade das fraturas atingiu níveis ainda mais altos.
Uma fratura é considerada complexa quando três ou quatro dos cinco ossos da face são quebrados. A área mais afetada é a mandíbula. “O paciente, além de aumentar as chances de morte, pode ficar com mais sequelas, como alteração na mastigação, na respiração e na estética”, alerta Gabriela Porto. Dentre as consequências, estão as chances de o queixo sair do lugar, assim como mudar a posição de um dos olhos.
Quando comprou uma moto usada, o autônomo Jhony Petson, 29 anos, nem pensou duas vezes em usar o capacete aberto. Não imaginava o que viria a acontecer. “Estava na Avenida Beberibe quando um carro entrou na minha frente com tudo.
Numa fração de segundos, tentei desviar e caí no chão, quebrando o maxilar e parte dos osso. Perdi muitos dentes, acho que uns 10”, conta. O acidente faz sete meses, mas até hoje Jhony tenta recuperar parte da estética facial anterior. O capacete diminui o risco e a gravidade de lesão na cabeça em torno de 72% e a probabilidade de morte em até 39%.
A negligência dos motociclistas não se limita ao uso de proteção na cabeça. Dentre os pesquisados pela UPE, 38% confessaram estar alcoolizados ou ter ingerido bebida alcoólica no momento do acidente. E cerca de 49% não tinham habilitação para conduzir o veículo, embora a maioria deles, 38,6%, usassem a moto para trabalho.
Boom de motos preocupa o interior
Em 1990, as motos representavam 8,5% da frota de Pernambuco. Em 2018, são 37%. O crescimento foi acompanhado por um boom de acidentes e mortes. Embora desde a implementação da Lei Seca os números venham diminuindo na Região Metropolitana do Recife, no interior o problema persiste. Em 2018, o Detran-PE irá intensificar as ações de educação e prevenção.
O Sertão, sobretudo a cidade de Petrolina, é a região que mais preocupa em número de vítimas de acidentes de moto. “No interior ainda há uma cultura de os pais darem cinquentinhas para os filhos adolescentes. Em 2011, cerca de 70% dos condutores não tinham habilitação. Esse número caiu para 50%, mas ainda é alto”, lembra o coordenador de Educação do Comitê Estadual de Prevenção aos Acidentes de Moto, Hélio Calábria.
Para ele, há uma necessidade de municipalização do trânsito urgente. “Criamos comitês nas 12 gerências regionais de saúde. O Detran e o Denatran têm oferecido consultoria. O município pode ajudar no dia a dia, montando uma estrutura de regulação do trânsito”, diz.
É o que defende a coordenadora de Educação de Trânsito do Detran-PE, Luciana Carvalho, que já vem usando o resultado da pesquisa da UPE na conscientização. “São lugares onde a fiscalização nem sempre chega. Intensificamos as blitze educativas. Vamos fazer caravanas nos municípios, com palestras, formação de multiplicadores”.
O aposentado André Pontes, 43, sabe a importância desse trabalho. “Fui atingido por um carro e minha cabeça bateu no chão. Mesmo de capacete, o impacto foi tão forte que até hoje tenho sequelas”, conta.
SAIBA MAIS
73% das vítimas de acidentes de trânsito estavam em motocicletas
30% das vítimas não estavam usando capacete
volução da frota de motos
2014 - 981 mil
2015 - 1 milhão e 32 mil
2016 - 1 milhão e 61 mil
2017 - 1 milhão e 84 mil
2018 - 1 milhão e 88 mil
Gastos com acidentados
R$ 917 milhões em 2015
Esse valor equivale a:
6 anos de cuidados para pacientes com câncer
4 anos de funcionamento do HR
quinta-feira, 12 de abril de 2018
Maioria dos acidentados com motos não usa capacete
Avaliação foi realizada com pacientes atendidos em três unidades de saúde do estado
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