segunda-feira, 1 de abril de 2019

'Do jeito que está, não vai passar', diz João Campos sobre Previdência


Membro titular da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal, o deputado federal João Campos (PSB) acredita que, devido à forma com que foi apresentada, a reforma da Previdência, dificilmente, deve passar. Candidato mais votado de Pernambuco na última eleição, com mais de 460 mil votos, o socialista, que é cotado para a disputa pela Prefeitura do Recife no próximo ano, também comentou sobre a aliança entre o PSB e o PT, e garante que, neste momento, a sua expectativa é a de cumprir o seu mandato.

Além disso, João opinou sobre o pacote anticrime apresentado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. O parlamentar respondeu às questões em entrevista à Rádio Transamérica, com a participação do jornalista Jairo Lima, da Folha de Pernambuco. Acompanhe abaixo.

Como enxerga essa movimentação e a dificuldade que o governo Bolsonaro, pelo menos no seu início, tem em acelerar e colocar em prática essas articulações para a votação da reforma da Previdência?

A desorganização do governo é muito grande, não só nos seus ministérios. Não tem diálogo, e quando não tem diálogo é difícil dar certo. Por isso que a Previdência - essa PEC apresentada, que é uma proposta muito ruim - eu defendo que a gente discuta, que converse. É importante. Do jeito que está não tem perigo de passar porque ela afronta o povo.

Eu vou dar um exemplo: a gente sabe que, desde o início, quando foi apresentada a PEC, de imediato o PT, o PSB já viram erros visíveis muito grandes, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e a aposentadoria do homem do campo. Essa semana o centrão se reuniu, assinou uma carta dizendo que pode votar na Previdência, mas não aprova isso. Tem itens como esses que não podem passar e não vão passar de jeito nenhum.

O que o senhor acha sobre a reforma proposta para os militares pelo governo?

Nada contra os militares, até porque não foram os militares que fizeram a reforma. Isso foi um cúpula que sentou no gabinete e fez a reforma. E fizeram uma coisa grave: misturaram uma reforma com um plano de carreira, de melhoria salarial, de promoção. Uma coisa que não ter nada a ver com a outra, com a Previdência. Da mesma forma, na reforma dita da Previdência, eles estão botando na mesma reforma alterações tributárias, trabalhistas e fiscais. Então, quando você fala do FGTS e tira o direito da multa de 40% do FGTS, isso aí é uma relação trabalhista, não tem nada a ver com relação previdenciária e está sendo alterada.

Qual a sua avalição sobre o plano de Segurança Nacional e o Pacote Anticrime do ministro Sérgio Moro?

Pelo que eu já dei uma olhada, parte muito do olhar da segurança através do Judiciário. Foi construído dentro do Judiciário e a gente sabe que na segurança pública você não tem só a esfera judiciária, você tem o papel do Ministério Público, da sociedade civil, tem o papel do Executivo, Legislativo, então são várias responsabilidades que têm e que têm que ser discutidas.Da forma que foi está muito com um viés que, não necessariamente, sanam todos os problemas.

Quando se fala em eleição municipal surge o seu nome. Isso é coisa de momento ou o senhor tem o desejo de ser prefeito do Recife?

A nossa expectativa hoje é, primeiro, dar conta de um mandato, cumprir um mandato. Nós tivemos uma votação grande, o povo confiou, depositou esperança, o desejo de ver uma política dando certo e a gente agora tem esse papel de defender o povo, de estar representando lá em Brasília em um momento extremamente desafiador. Essa é a nossa prioridade hoje. Agora, eu acho natural as pessoas tentarem antecipar.

A aliança entre o PT e PSB vai permancer para 2020?

A aliança que o PSB construiu com PT não foi uma aliança para uma eleição. Eu acho que a gente teve uma maturidade, de reconhecer os processos, os caminhos que nos fizeram ajudar na construção de um Brasil melhor, ajudar na construção de um Pernambuco e fazer uma leitura que o que estava em risco não era uma divergência qualquer uma não, era passar o que a gente está passando agora. Então eu acho que o presidente Lula fez uma leitura muito correta do cenário e percebeu que a gente tinha que se juntar para fazer essa defesa, tanto é que hoje a gente está no mesmo bloco na Câmara dos Deputados. Isso daí tem dado certo também aqui na Prefeitura do Recife, no Governo do Estado, nós temos a colaboração em áreas importantes. O importante é que a gente está preservando o bom diálogo, que a gente está construindo um caminho que eu acho bem feito na condição que nós estamos no Brasil hoje e o que é mais importante, quem nos coloca junto, acima de tudo, são os nossos interesses.

Qual a sua visão sobre a relação do presidente Jair Bolsonaro com os filhos (Carlos, Eduardo e Flávio) dentro do Governo?

A minha visão é a seguinte: é uma relação desastrosa, não pode dar certo dessa forma. Eu acho que, acima de tudo, você ser filho, ser primo, ser irmão ou casado não lhe condiciona a nada nem lhe diminui a nada. Para estar na política eu acho que não basta eu ser filho do meu pai (o ex-governador Eduardo Campos) , eu tenho que gostar, tenho que me dedicar, tenho que ter vocação, saber fazer direito. Depende muito de você. Agora, no caso do presidente Jair Bolsonaro, ele tem três filhos na política, e eu acho que do ponto de vista gerencial é um terror você tomar uma decisão. Um filho grita de um lado e você muda, outro filho briga com o ministro e você derruba o ministro, depois briga com presidente da Câmara aí você briga também. Se ficar desse jeito não tem como dar certo. Quem tem que mandar é o presidente e não o filho do presidente ou a mulher do presidente ou quem quer que seja. Tem que se respeitar a hierarquia das coisas e fazer do jeito certo. Fonte: Blog da Folha

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