quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Hebe Camargo se impõe contra censura em 'Hebe: Estrela do Brasil'

Filme, com Andrea Beltrão no papel de Hebe, estreia nesta quinta (26) nos cinemas



Cinebiografias não necessariamente precisam personificar, fielmente, as celebridades que representam. O meio termo entre a interpretação e o reproduzir trejeitos não descaracteriza o intuito de contar a história do outro, tal qual fez a atriz Andrea Beltrão, a Hebe Camargo (1929-2012) do longa “Hebe - A Estrela do Brasil”, dirigido por Maurício Farias.

Com estreia nesta quinta-feira (26) nos cinemas do Brasil, a narrativa realça a censura imposta às falas desenfreadas da apresentadora, levando o público a um passeio por sua trajetória na televisão dos anos de 1980, época em que transitou entre Bandeirantes e SBT - esta última emissora, a que lhe deu maior notoriedade ao longo de suas mais de seis décadas de carreira, embora não tenha sido nela a sua despedida, mas na RedeTV, espaço em que se manteve em breve temporada antes de sua morte, em setembro de 2012, aos 83 anos.

Nada do famigerado bordão "gracinha", tampouco os divertidos selinhos dados nas bocas dos convidados - cena vista tão somente quando "o seu grande amor", o cantor Roberto Carlos, vivido pelo ator Felipe Rocha, esteve em seu programa. O que o filme mostra é a Hebe que se valia de uma exímia virtude de prender plateia e telespectador, para percorrer temas tidos como subversivos por uma então censura que ainda dava as caras, a ponto de ameaçar tirar a concessão da emissora em que trabalhava (Band) e de processar a apresentadora (quando já estava no SBT).

Com o recorte definido desde as primeiras cenas, o longa buscou evidenciar, portanto, uma mulher que não declinava em fazer, ao vivo e em rede nacional, a defesa de minorias desfavorecidas, como pobres e homossexuais. Na mesma medida em que arrancava aplausos fervorosos durante suas afirmações contundentes contra políticos corruptos e outras mazelas sociais. "Não sou de direita nem esquerda, sou direta", diria ela que, contraditoriamente para alguns, mantinha sem esconderijos uma relação de amizade com Paulo Maluf, fato sutilmente explorado na narrativa.

No famoso sofá que integrava o cenário, com presenças das quais ela não abria mão, Hebe consolidava a reputação de ser um dos nomes mais ativistas da televisão brasileira. A sinceridade de estar em "um mundinho de merda", frase dita por ela no filme, dava o tom de revolta diante de preconceitos que cercavam temas como a AIDS, que vitimou seu cabeleireiro e amigo Carlucho (Ivo Müller). Talvez por ousadia e provocação, entrevistou personalidades como Roberta Close (Renata Bastos) e Dercy Gonçalves (Stella Miranda), esta última protagonista da memorável cena de exibir os peitos para todo o Brasil. Eram fatos que causavam incômodos à censura e que, por sua vez, deixavam em pânico sua produção.

Vida pessoal

E por mais que Walter Clarck, produtor da Band, interpretado por Danilo Grangheia, tenha tentado removê-la da ideia de fazer programas tão somente ao vivo, curvando-a, dessa forma, aos pedidos dos incomodados censores, ela resistiu, a ponto de pedir demissão da emissora e seguir, tempos depois, para o SBT. Nesse ínterim, a amizade com as amigas Nair Belo (Cláudia Missura) e Lolita Rodrigues (Karina Teles) ganha destaque no longa - rápido, vale ressaltar. E disso vale o registro de não ter sido o trio mais explorado dentro da narrativa, dada a peculiaridade das inseparáveis parceiras de vida e de palcos.

Mas nada que tenha destoado da proposta do trabalho, que trouxe também alguns "diariamentes" de Hebe Camargo, em família, como sua relação com o único filho, Marcello (Caio Horowicz), do seu casamento com Décio Capuano (Gabriel Braga Nunes) e das idas e vindas de um segundo casamento enredado por ciúmes e agressões de Lélio Ravagnani (Marco Ricco), além de sua vivência com o sobrinho Cláudio Pressutti, coprodutor do filme, interpretado por Danton Mello.

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