terça-feira, 15 de outubro de 2019

Refeno: família fala sobre desafios de morar em barco

Participante da competição, tripulantes do Planckton reside na embarcação há mais de uma década



FERNANDO DE NORONHA (PE) - Para muitos velejadores, barco é sinônimo de lar. Isso porque são muitos os que moram em suas embarcações. Um exemplo de vida em alto-mar vem dos tripulantes do Planckton, os paulistas Fábio Gandelman e Cecília Quaresma, ambos de 46 anos. Eles, juntos com o filho Igor, de 12 anos, e mais três tripulantes convidados, atravessaram as 300 milhas náuticas (550 quilômetros) da Regata Internacional Fernando de Noronha (Refeno) deste ano em 44h52min05s. Esse tempo de prova posicionou o veleiro de 43 pés de comprimento (cerca de 13 metros) na segunda posição em sua categoria, a Alumínio, lançada este ano pelo Cabanga Iate Clube após desmembramento da categoria Metal.
"A regata deste ano foi dura, puxada. Saímos do Recife com bastante vento, havia umas ondas maiores", detalhou à reportagem Cecília, esposa do comandante Fábio, momentos após chegarem à ilha, na manhã de segunda-feira. Apesar disso, a prova correu sem maiores problemas. "O bom é que velejamos. Ontem (domingo)) melhorou, o mar baixou e chegamos bem", acrescentou.
Participar da Refeno, aliás, não é novidade para a família. Igor ganhou o troféu de velejador mais jovem em sua primeira regata, em 2009, quando tinha apenas dois anos de idade. Cecília está em sua terceira edição e Fábio, na quarta. O comandante colocou o barco na água em dezembro de 2003 e vive nele desde então. Cecília chegou depois, em agosto de 2006, após alugar o Planckton para um charter (excursão turística) em Ilhabela, em São Paulo, e ambos se apaixonarem. Igor nasceu em setembro de 2007 e o veleiro ganhou um novo tripulante.
Apesar de parecer fácil, viver no mar exige abrir mão de certas coisas. Água, por exemplo, precisa ser racionada pelos tripulantes. O espaço e a energia também são limitados, mas, em troca, um maior contato com a natureza e uma melhor qualidade de vida. "A vida no barco é muito dura. Em geral, as pessoas romantizam muito a vida no mar. Apesar disso existem grandes vantagens, como viajar e conhecer outros países e paraísos como Fernando de Noronha", declarou Cecília. Aparentemente incomum por causa da escolha de viver no mar, a família é uma família como as outras, pois preza bastante pelo amor, companheirismo e respeito mútuo.
Mesmo vivendo em alto-mar, a educação de Igor não é deixada de lado pelos pais. O menino, que mora no Planckton desde que nasceu, em 2007, recebe aulas no barco. "Ele está no sexto ano (do ensino fundamental). Eu dou aula a ele a bordo. Sou professora formada em pedagogia. Fábio dá aulas de inglês, marcenaria e trabalhos pessoais", acrescentou a tripulante. Para Igor, morar em alto-mar é uma experiência única. "É muito legal. Acho muito bonito ver o mar, muitos peixes", disse o menino, que afirma sonhar ser um velejador como o pai quando crescer.
Em abril deste ano, a família ganhou mais um companheiro: o gato Amendoim, adotado por eles quando passavam em Parati, no Rio de Janeiro. "O Igor sempre pediu um gatinho e eu disse ao Fábio que ele já tinha me conquistado. A gente precisa tomar cuidados com ele, como com o sal do mar e levar ao veterinário", explicou Cecília.
Velejador experiente, Fábio relata que, em seus anos de navegação oceânica o avanço da tecnologia propiciou mais segurança e conforto a bordo. "Para a regata, por exemplo, a previsão do tempo é um diferencial. Hoje é possível ter a previsão atualizada o tempo todo graças a tantas formas de comunicação via satélite. É uma informação que faz a diferença você ter ou não ter", disse. Ele terminou de construir o barco em 2004 e hoje também ministra cursos para os iniciantes na vela.
A família fica agora mais uns dias em Noronha e depois parte para a travessia de volta da Refeno, até Cabedelo, na Paraíba. Eles ainda mantêm um site no qual compartilham experiências, agenda, cursos a bordo e visitações ao veleiro.

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