domingo, 10 de maio de 2015

Dona Selma do Coco morre e deixa cultura pernambucana de luto

Musicalidade e alegria desta mestra da cultura popular ficam como legado do seu talento  / Foto: Heudes Regis/JC Imagem


Musicalidade e alegria desta mestra da cultura popular ficam como legado do seu talento

Foto: Heudes Regis/JC Imagem

"Estou morrendo", repetiu duas vezes Dona Selma do Coco durante entrevista ao Jornal do Commercio, em 2013, para o caderno especial sobre os Patrimônios Vivos de Pernambuco – publicado naquele ano. “(Agradeço) o prestígio que (as pessoas) têm por mim e o valor que dão ao meu trabalho. Um muito obrigado e um ‘tchá’”, disse a cantora num trecho do vídeo (abaixo) gravado na sua casa, no Largo do Amparo, Olinda. Neste sábado, às 16h50, a ex-tapioqueira e uma das mais queridas e populares artistas pernambucanas morreu, aos 80 anos, deixando fãs, amigos e familiares sem sua simpatia e a gargalhada eternizada em canções: “Rá-rá”. Ainda não há informações sobre o velório e sepultamento da artista. À noite, o corpo foi encaminhado para o Serviço de Verificação de Óbitos, no Instituto Médico Legal de Pernambuco. O procedimento é necessário porque a compositora foi internada após sofrer uma queda. Será investigado se essa queda está relacionada à morte. 
Dona Selma estava internada no Hospital Miguel Arraes, no Grande Recife, desde o dia  11 de abril, após cair no banheiro de casa ao sentir uma tontura. Ao dar entrada na unidade, além de uma fratura no fêmur, ela foi diagnosticada com uma infecção urinária (controlada pelos médicos). Segundo seus familiares, Selma também estava com um dos rins paralisado e teve um aneurisma. No dia 23, a cantora fez uma cirurgia no fêmur e, em seguida, foi para a UTI, chegando a ser entubada. No dia seguinte, apresentou melhora e recebeu visita dos parentes. Neste sábado,  ela não resistiu e morreu. Selma do Coco criou 13 sobrinhos e teve apenas um filho, Zezinho, que morreu em 2010 – desde então, Selma vivia abalada. 
Na conversa com o JC, há dois anos – uma das últimas entrevistas dadas pela cantora – Selma, oscilava seu humor sarcástico com respostas curtas e olhar evasivo, resumindo sua vida e contando suas lembranças com uma voz cansada, mudada pelo tempo. Por outro lado, seu olhar brilhava ao falar da vida de artista e escutar a neta mais nova, Polyana, hoje com 11 anos, cantar coco e reproduzir as conhecidas onomatopeias da avó. “Quando eu morrer, ela vai ficar com a mãe dela tomando conta do meu trabalho”, sonhava a senhora, que começou a cantar estimulada pelos pais. Nos seus shows, ela dividia o palco com os netos. 

Nascida em Vitória de Santo Antão, Zona da Mata de Pernambuco, Selma Ferreira da Silva, como fora batizada, veio para o Recife aos 10 anos para morar no bairro da Mustardinha, Zona Oeste do Recife. Desconhecida até então, só saiu do anonimato quando passou a vender tapioca no Alto da Sé, em Olinda. Foi nesse reduto turístico da cidade histórica que ela conheceu figuras importantes para sua trajetória pessoal e artística. Um deles foi o músico Chico Science e a cirandeira Lia de Itamaracá – de quem se tornou amiga. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.