No Procon-PE, empresas de ônibus culpam usuários por acidentes

Do JC Trânsito

Terminais ficam superlotados em horários de pico no Grande RecifeFoto: Diego Nigro/JC Imagem

Após a morte de dois jovens que caíram de ônibus no Recife em menos de dois meses, o Procon de Pernambuco, serviço de proteção aos direitos do consumidor no Estado, realizou, na última semana, cinco reuniões com as 13 empresas que operam o transporte público na Região Metropolitana do Recife. As companhias alegaram nesses encontros que a culpa pelos acidentes foi dos próprios usuários. O órgão estadual vai aguardar a conclusão dos inquéritos para se posicionar, mas informa que fará uma investigação própria, além de avaliar campanha de conscientização.

As operadoras começaram a ser ouvidas há uma semana, em uma média de três por dia. Documentos foram entregues pelas empresas e pelo Procon-PE.

De acordo com o gerente jurídico do Procon-PE, Roberto Campos, o debate envolveu principalmente a questão da segurança nos ônibus de forma geral. "As empresas enfatizam que vêm realizando campanhas de educação dos usuários e de motoristas e cobradores. A questão é que elas não têm sido suficientes", afirma.

Por isso, essas campanhas serão avaliadas pelo órgão, que quer chegar a um pacto de ações com as empresas para melhorar a segurança nos ônibus. A principal medida será a educação de usuários e motoristas e cobradores. 

"Talvez essas campanhas estejam dirigidas de forma errada. Todos os exemplos que pegamos foram para incentivar as pessoas a cederem a cadeira para os idosos, por exemplo. Mas não mostram que os estudantes não devem sentar nos degraus. Precisamos de algo focado exclusivamente para a segurança", aponta. Para o gerente jurídico do Procon-PE, a campanha deverá ser mais didática.

Ainda não há prazo para a conclusão dos estudos, mas o órgão afirma que deverá ser o mais rápido possível. "O que está em jogo são vidas.O transporte público tem que ser eficaz e seguro", defende Campos. Novas reuniões com as empresas de ônibus devem ser agendadas.

ACIDENTES -  A primeira morte por acidente com ônibus este ano foi o da estudante de biomedicina Camila Mirele Pires da Silva, 18 anos, que deixava a Universidade Federal de Pernambuco, na Zona Oeste do Recife, num ônibus Barro/Macaxeira superlotado, quando caiu do veículo. A jovem permaneceu consciente até chegar ao Hospital Getúlio Vargas (HGV), também na Zona Oeste, onde faleceu. O acidente aconteceu no dia 8 de maio e as investigações ainda estão sendo realizadas pelo delegado Newson Motta, da unidade de Acidentes e Delitos de Trânsito. O prazo inicial para a conclusão do inquérito era de um mês, porém o delegado conseguiu mais dois meses para terminar a apuração.

Outro estudante também foi arremessado de um ônibus em movimento menos de um mês depois, no dia 16 junho. O aluno do curso de ciências biológicas da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Harliton Lima Santos, 20, estava voltando de um cinema quando aconteceu o acidente no terminal do Cais de Santa Rita, no Centro do Recife. O caso está sendo investigado e também deve ter o prazo de 30 dias prorrogado.

Roberto Campos explica que esses casos só serão tratados de forma isolada pelo Procon-PE após a conclusão das investigações, quando a Metropolitana e a Vera Cruz - operadoras das linhas envolvidas nos acidentes - serão chamadas individualmente. Enquanto isso, deverão ser analisados os documentos, o conteúdo dos debates nas últimas reuniões, entre outras formas de investigação própria. "As empresas foram questionadas sobre os acidentes e atribuem a responsabilidade aos usuários. Segundo elas, porque não obedecem às normas de segurança", revela o gerente jurídico do órgão.

Apesar dos acidentes, o órgão não costuma receber reclamações sobre as empresas de ônibus. Para saber melhor sobre o serviço, o telefone, com ligação gratuita, é0800.28.21.512.