
Por Germana Macambira e Mariana Dantas
Ah, o Carnaval… E suas maledicências acerca de blocos cujos nomes têm origem, vejam só, em gritos eufóricos de crianças, deslumbradas pela irreverência momesca que toma conta das ladeiras de Olinda: “Mãe, mãe lá vem a mulher na vara”. “Êêêêêê! Lá vem a mulher na vara! Lá vem a mulher na vara!”.
Na época – há duas décadas – o tronco de um cajueiro ‘acomodou’ uma mulher que torceu o pé na folia e, para continuar nela, foi carregada em cima do pedaço de madeira. “Dois na frente e dois atrás, ela sentou com o apoio de outras amigas e se equilibrou sentada na vara”, esclarece o presidente e fundador do bloco Mulher na Vara, Carlos Porciúncula.
Segue o frevo ao som de Vassourinhas, Hino do Elefante… E lá vem a multidão atrás da mulher (na vara) que, inocente como as crianças que deram voz ao bloco, desejava tão somente curtir a folia de uma forma mais confortável.
“Ela botou os dois pés na vara e ficou de pé quando chegamos lá no Largo da Amparo. Porque as pessoas começaram a fazer coro. A partir dali o Mulher na Vara estava formado e era uma questão de tempo para que, oficialmente, mais um bloco viesse a integrar o Carnaval de Olinda”.
De fato. Em 1994 – ano seguinte ao incidente do pé torcido, da vara de cajueiro e etc – Carlos e os mesmos amigos, incluindo a primeira mulher que subiu na vara, Luciana Pintinho, começaram a desfilar pelas ruas da cidade.
“De lá pra cá saímos todos os anos, sempre na segunda-feira, do Varadouro. Desde a concentração as mulheres podem subir na vara sem ter medo de cair e durante o percurso também”, ressaltou o presidente que garante a segurança de todas que se aventuram na vara com quatro homens no centro dela, apoiando quem sobe, além de outros seis distribuídos ao longo dos seus cinco metros do ‘palco’ que, há algum tempo, passou a ser de bambu. “Trocamos a cada três anos”, completou Carlos, ainda em relação à segurança das mulheres que ‘desfilam’ no pau de bambu.
Quem quiser ver a mulher na vara pode se programar para a prévia da troça no próximo sábado (9), a partir das 16h, na Garage Food Truck, que fica na Rua Padre Silvino Guedes, 65 – ao lado da igreja do Espinheiro.
E durante os dias de Momo o bloco faz concentração ao meio-dia da segunda de Carnaval, da Rua da Boa Hora, no Varadouro – próximo à Capela da Boa Hora.
AOS DESILUDIDOS (E VINGATIVOS)… Nada como as desilusões provocadas pelo ex, ficante, amigos, inimigos, gato, cachorro e, quiçá pela vida para inspirar dois amigos desapontados com sabe-se lá o quê, mas que estavam suficientemente desejosos em formar uma espécie de ‘bloco da vingança’.

A troça faz prévia no próximo dia 16. Foto: Facebook/Eu Me Vingo de Você no Carnaval
Seria surpresa afirmar que além deles tinha outra ‘tuia’ de gente morrendo de vontade desse sentimento de ira? Pelo menos na folia de 2015 – primeiro ano do bloco Eu Me Vingo de Tu no Carnaval – cerca de mil pessoas desejaram a mesma coisa, desde os primeiros acordes da troça que sai da Rua Mamede Simões, imediações do bar Central.
“Seja qual for a desilusão a melhor vingança é a que é dada com amor. Essa foi a nossa intenção quando pensamos em reunir outros amigos para ‘se vingar’ no Carnaval de qualquer que seja a vingança”, justifica um dos idealizadores do bloco, Thiago Lira.
Ele e mais seis pessoas comandam o ‘furor’ do Eu Me Vingo de Tu no Carnaval ao som de Djs e orquestras que, é claro, incrementam os instintos vingativos na base do frevo.
“Vingança é um prato que se come beijando, dançando e se divertindo”, deixou claro Thiago que alerta sobre o ‘perigo’ de ficar com instinto mais (amorosamente) vingativo, durante a folia do bloco. “Vamos distribuir o ‘sheik do amor’ que vai tornar as pessoas mais atentas às paixões.
Mas para fazer jus ao nome do bloco, vamos à parte ‘séria’ da coisa. Todo bloco que se preze tem que ter – além do estandarte, é claro – um mascote. Nada como uma sapa de boca aberta para receber papeis com nomes das pessoas que serão vingadas. “No final das contas nem costuramos a boca da sapa. É tudo simbólico”.
Ufa! Bom saber! Por mais que os instintos vingativos tenham dado origem à troça que promete se vingar de tu no Carnaval e que, umas das ilustrações do bloco seja a máxima: ‘Sangue no olho pro Carnaval é o molho’, é tudo inofensivo…
A troça faz prévia no próximo dia 16, a partir das 13h, na Rua Mamede Simões – a mesma rua do Bar Central.
P.S.: A propósito o nome da mascote da sapa, mascote do bloco Eu Me Vingo de Tu no Carnaval, é Tona!
Essas foram apenas duas das tantas histórias que outras centenas de blocos têm para contar. Cada uma delas com peculiaridades e inspirações que ‘casam’ perfeitamente no sobe e desce das ladeiras de Olinda, nas ruas e avenidas saudosas do Bairro do Recife e nas tradições do Carnaval do interior do Estado.
Confira a origem dos nomes de alguns blocos que contribuem para tornar única a folia de Momo em Pernambuco:
PITOMBEIRA

A Troça Carnavalesca Pitombeira dos Quatro Cantos – fundada em 1947 – foi idealizada por um grupo de amigos que resolveu sair pelas ladeiras de Olinda empunhando galhos de pitombeira.
A brincadeira agradou tanto que a agremiação é considerada uma das mais tradicionais do Carnaval. Com o passar dos anos, para a alegria dos pés de pitombeira, o costume de frevar empunhando os galhos foi deixado de lado, mas a paixão dos foliões pela agremiação só faz aumentar.
A sede da Pitombeira fica no coração da Cidade Alta, na Rua 27 de janeiro, e no Carmo, e os ensaios têm início já no mês de setembro, sempre aos domingos – e são ponto de encontro dos amantes do frevo.
SEGURUCU
Foto: Facebook/Segurucu

Foto: Facebook/Segurucu
A troça – fundada em 1988 – surgiu de uma brincadeira de família que, durante o Carnaval ficavam ‘de olho’ nas meninas que passavam na rua e expressavam a admiração com o ‘eu quero é tu’ que rima com o nome do bloco.
A folia do bloco acontece no dia 9 de fevereiro, a partir das 10h, no Clube Atlântico de Olinda. Pagode Só Preto, Batuketo e Orquestra do Maestro Carlos estão entre as atrações.
CEROULA
Foto: arquivo NE10

Foto: arquivo NE10
Fundado em 1962 o Ceroula de Olinda é uma dissidência do já extinto Pijama de Olinda. Um grupo de amigos desta torça decidiu deixar de seguir o bloco e criar a sua própria agremiação. O primeiro nome sugerido foi “Cueca”, mas os censores da Ditadura Militar vetaram, talvez temendo que todos saíssem de cueca pelas ladeiras. Os seus fundadores resolveram então mudar o nome para Ceroula.
Nos primeiros anos da troça, além de vestir as tradicionais ceroulas, feitas de algodão, os integrantes (todos homens) desfilavam nas ladeiras com camisa de manga, colete, gravata borboleta, sapato de bico de pena e bengala. Com o tempo, a vestimenta foi deixada de lado, com exceção da ceroula que está à venda na sede do bloco até hoje.
Muitos turistas compram como suvenir de recordação. Apesar da ceroula ser usada apenas pelos homens, o bloco também é querido pelas mulheres. O Ceroula desfila pelas ladeiras no sábado de Zé Pereira, com concentração às 16h no Clube Atlântico, e na Terça-Feira Gorda, com saída do Bonsucesso, também às 16h. Oficialmente possui 600 integrantes.
PEGA VARETA
Foto: Facebook/Pega Vareta

Foto: Facebook/Pega Vareta
Você quer brincar de pegar vareta? Se essa pergunta vier de um homem adulto, pense duas vezes antes de respondê-la porque, neste caso, a vareta em questão pode ser outra.
A indagação capciosa era a brincadeira preferida do estudante de veterinária Bruno Alves para divertir os amigos. Em 2010, durante uma conversa de mesa de bar, sua turma decidiu fundar um bloco e o nome “Pega Vareta” foi o primeiro a ser sugerido pelo grupo.
A aceitação foi unânime. O bloco, que inicialmente desfilava pelas ruas de Casa Forte, na Zona Norte, hoje realiza prévia em local fechado, na semana pré-carnavalesca. A folia será dia 31 de janeiro, no Espaço Pega Vareta, em Casa Forte.
HOJE A MANGUEIRA ENTRA
Foto: JC Imagem

Foto: JC Imagem
Fãs da escola de samba carioca Mangueira, quatro amigas decidiram vestir verde e rosa para brincar o Sábado de Carnaval nas ladeiras de Olinda (mesmo dia em que a escola desfila no Rio de Janeiro). Já no primeiro ano (1994), as amigas fizeram um estandarte para avisar que “Hoje a Mangueira Entra”. A brincadeira ganhou milhares de adeptos que todos os anos vestem as cores da escola para brincar a tarde do sábado em Olinda.
EU ACHO É POUCO

Foto: Facebook/Eu Acho é Pouco
Antes de conhecer sua história, descubra o nome completo: Grêmio Lítero Recreativo Cultural Misto Carnavalesco Eu Acho é Pouco. O tamanho do nome sem abreviações é proporcional ao amor que a nação amarela e vermelha – como são chamados os seus “seguidores” – sente pela agremiação, uma das mais famosas e queridas do Carnaval de Olinda. O Eu Acho é Pouco foi fundando em 1976 por um grupo de amigos que resolveu se unir para brincar o Carnaval e, ao mesmo tempo, se manifestar contra a ditadura militar em vigor no Brasil. O grupo era formado por arquitetos, profissionais liberais, advogados e engenheiros. Além do estandarte, o cortejo que desfila no Sábado de Carnaval e na Terça-feira Gorda possui um famoso dragão que tem o poder de encantar e levar alegria para a multidão de foliões.
PAPANGUS DE BEZERROS
Foto: JC Imagem

Foto: JC Imagem
De acordo com o professor Ronaldo J. Souto Maior – fundador do Instituto de Estudos Históricos, Arte e Folclore dos Bezerros – a origem dos Papangus da cidade de Bezerros – cidade que fica no Agreste do Estado – advém de 1881, de uma brincadeira de família de senhores de engenhos que saíam mascarados para visitar os amigos durante o Carnaval.
O que eles comiam: Angu. Por isso ficaram conhecidos como papa-angus.
Hoje a troça desfila no domingo de Carnaval pelas ruas do município e atrai uma multidão, tornando a festa de Bezerros uma das mais conhecidas de Pernambuco.
SIRI NA LATA

Falar mal de governo, beber, namoram e aproveitar a folia de Momo. Eis os focos do bloco Siri na Lata que deu início à sua história em meio à ditadura, sendo fundado pelo comendador Adriano Freyre e intelectuais avessos ao período.
No primeiro desfile, nada de orquestras, Diferente dos dias atuais quando ‘desfila’ no Baile do Siri na Lata que este ano acontece no dia 29 de janeiro, no Clube Português.
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