sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

[Entrevista] “Quem assume é a advogada, não a pastora”

Advogada e pastora evangélica Damares Alves fala à Folha de Pernambuco sobre o novo Ministério das Mulheres, Família e Direitos Humanos

Futura ministra de Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, escolheu a advogada e pastora evangélica Damares Alves para o novo Ministério das Mulheres, Família e Direitos Humanos. A pasta vai abrigar a Fundação Nacional do Índio (Funai), que hoje está na Justiça. Ela é a segunda mulher indicada para um ministério do próximo governo. Atualmente, Damares é assessora no gabinete do senador Magno Malta (PR-ES). Ontem, logo depois do anúncio, a futura ministra prometeu garantir que as mulheres ganhem o mesmo salário que os homens. Ela também se manifestou contra o aborto, a favor da Escola sem partido, e garantiu que o governo de Bolsonaro tem como prioridade "combater a violência", inclusive contra a comunidade LGBT. Nesta entrevista exclusiva à Folha de Pernambuco, Damares nega que tenha sido escolhida por ser evangélica - e sim por ser advogada- e dá dicas de como vai atuar. Confira.
Prioridades
A espinha dorsal do ministério vai ser a vida. Entendo que o maior e o primeiro atributo de todo o ser humano é a vida. Nossa prioridade será a provisão da vida. É esse o discurso do presidente Bolsonaro ao longo do tempo. Combate à violência e garantia à vida. Entendo que o mais importante de todo o direito humano é o direito à vida e todas as pastas vão trabalhar nessa perspectiva. Vamos proteger mulheres para que tenham vida segura. Veja que essa é uma pasta especial e plural, eclética. Contempla idosos, mulheres, a igualdade racial, e teremos a Funai conosco.
Questão indígena
Queremos que o índio tenha vida e vida em abundância nessa nação. A questão indígena tem que ser vista num todo. A coisa mais importante numa área indígena não é a terra, não é o minério, não é a madeira. É o índio protegido como pessoa, como ser humano. O lugar do índio é no nosso ministério. Vamos proteger a vida, a cultura do índio.
(A despeito do conflito de interesses entre a bancada ruralista e os defensores da questão indígena) você não vê nenhum ruralista pregando morte ao índio. Dá pra sentar e conversar. O governo Bolsonaro vem com uma grande novidade, que é o poder do diálogo. Essas guerras estabelecidas no Brasil, do cristão contra o LGBT, do branco contra o negro, isso acabou. Nós somos um único povo.
Magno Malta
Não houve nenhum mal-estar com o Magno Malta. O meu nome estava cotado para assumir a Secretaria Nacional de Políticas Públicas para Mulheres. Magno Malta nunca seria Secretário das Mulheres, não é o perfil dele. Ao passar do tempo, a comissão de transição foi trabalhando para não se criar mais ministérios e criando a ideia de um único ministério, intitulado Mulher, Família e Direitos Humanos. Cogitou-se até juntar com Desenvolvimento Social, mas trouxeram direitos humanos pra essa pasta.
Segurança
(Não vai haver conflito entre direitos humanos e segurança pública) exatamente porque esse governo vem com a proteção à vida. O direito a ser protegido é à vida. Quem não proteger a vida está violando os direitos humanos. A nossa atuação vem com proteção à vida.
Mãe, pastora e advogada
Eu não fui indicada pela bancada evangélica. Vi numa outra reportagem que a bancada gosta de mim, eu já fui assessora da bancada. Mas meu presidente me escolheu por causa do trabalho que eu já faço (como advogada). Ele me conhece há mais de 20 anos. E vale lembrar: quem está assumindo não é a pastora, é a advogada. Sou mulher, sim, e tu já vai aprendendo o seguinte. A mulher é o ser mais espetacular que habita no planeta Terra. Eu sou mulher e a mulher precisa ser protegida, amada, paparicada. A mulher nasceu para ser amada, protegida, paparicada, para levar café da manhã na cama. Se eu fosse tu, depois que desligasse o telefone, já compraria um presente para a sua esposa. Não tem nada de conflitante na minha posição e a relação com a bancada evangélica.
Feminismo e aborto
O movimento feminista tem sua pauta, vão continuar lutando com sua pauta, batalhando por sua pauta. Algumas eu estarei junto e elas serão todas muito bem-vindas. É o ministério das mulheres. É de todas as mulheres. Agora, eu tenho posição firme clara e convicta, sou contra o aborto. Aborto, pra mim, é morte. Nosso ministério é de vida. Não vou sair pelas ruas obrigando as mulheres a ter filhos que não querem, mas não vou pedir descriminalização do aborto. Esse tema é do Congresso. Nós vamos proteger a mulher e acredito que não é necessária nenhuma modificação na legislação atual (sobre aborto). Minhas posições não me separam de quem pensa diferente de mim, vamos convergir no que for possível.
Salários
Nenhum homem vai ganhar mais que uma mulher nessa nação desenvolvendo a mesma função. Isso já é lei e o Ministério Público está aí para estar fiscalizando. Se depender de mim, vou para porta da empresa em que o funcionário homem desenvolvendo papel igual à mulher está ganhando mais. Acabou isso no Brasil. Se a ministra precisar brigar por isso, vai brigar sim!
Movimento LGBT
A relação vai ser a melhor possível com o movimento LGBT, não existe nenhuma guerra entre conservadores e gays, é uma falsa guerra e nós vamos provar isso. A nossa gestão no ministério vai ser uma gestão de paz. O combate à violência contra a comunidade LGBT, os programas que já existem, porque já existe uma coordenação dessa, vai continuar, os programas vão continuar. As críticas do presidente Bolsonaro nunca foram às políticas públicas. As críticas foram à doutrinação em sala de aula. Mas o combate à violência e as políticas de inclusão vão continuar.

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