Um evento de múltiplas reações. É assim que funciona um clássico entre times pernambucanos. Décadas atrás, quando Sport, Santa Cruz e Náutico duelavam entre si, a cidade parava - mas não no sentido que essa frase tem atualmente. Torcidas juntas nas arquibancadas e rivalidade amistosa. Os registros jornalísticos e a memória dos mais velhos estão aí para ratificar o que para os mais novos parece utopia. Hoje, um jogo dessa magnitude traz sentimentos intragáveis. A alegria de ver um grande jogo entre rivais contrasta com o medo em sair de casa para fazer algo simples: torcer pelo time de coração. Os vândalos travestidos de torcedores e as confusões recorrentes, algumas terminando em morte, afastam cada vez mais pessoas dos estádios. Na tarde deste domingo, Timbu e Leão entram em campo, na Ilha do Retiro, pelo Campeonato Pernambucano. Mais um dia em que o temor da violência teima em querer amargar a festa do futebol.
O enredo em clássicos é o mesmo. Antes de a bola rolar, a Polícia Militar precisa cuidar da escolta das uniformizadas. Por vezes, mesmo distantes do local da partida, os vândalos infiltrados marcam pontos de encontro para brigar. Arredores dos palcos esportivos, avenidas próximas, terminais de ônibus e metrô, entre outros. Dentro dos estádios também ocorrem brigas. Em 2017, a Federação Pernambucana de Futebol (FPF) divulgou uma pesquisa em que 68% dos entrevistados citaram as torcidas organizadas e a violência como os motivos para não ir aos jogos de futebol.
Em 2001, Pernambuco registrou a primeira morte atrelada ao futebol. Numa briga generalizada entre tricolores e rubro-negros, no Túnel Chico Science, próximo à Ilha do Retiro, Daniel Ramos da Silva, de 17 anos, levou dois tiros e morreu. Em 2013, Lucas Lyra levou um tiro na cabeça na frente dos Aflitos. Um homem que fazia a escolta de uma empresa de ônibus disparou no jovem, que hoje ainda guarda sequelas físicas e emocionais. No ano seguinte, Paulo Ricardo Gomes da Silva faleceu após ser atingido por um vaso sanitário, arremessado da arquibancada do Arruda. Detalhe: ele era torcedor do Leão e estava junto com a torcida do Paraná, clube que enfrentou o Santa Cruz na ocasião.
Para o Clássico dos Clássicos, a Polícia Militar informou que 404 profissionais trabalharão na segurança do evento. Na área interna serão 108 do Batalhão de Choque e 30 da CIPCães. Na externa, 266 policiais atuarão nas principais vias. Nas estações do metrô e terminais integrados de passageiros haverá patrulhamento motorizado para inibir a ação dos vândalos. Tudo para ter um domingo de paz. Afinal, termos como "atacar", "enfrentar" e "combate" só devem ficar no âmbito da metáfora do que acontece em campo.
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