quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Homem da Meia-Noite desfila no Morro da Conceição pela primeira vez


 Cortejo no Recife marca o aniversário de 87 anos do calunga, que este ano traz como tema “A Voz do Morro”. Aberto ao público, evento acontece no sábado (2).



Pela primeira vez na história, o Homem da Meia-Noite sobe, no sábado (2), o Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife. Com início previsto para as 16h, a ocasião celebra os 87 anos do calunga, que desde 2006 é tido como Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco.


A festa promete contar com um bolo de aniversário gigante, com a participação da orquestra do maestro Carlos, de passistas, artistas e representantes de várias agremiações culturais do estado.


“Vamos viver um dos momentos mais emocionantes da história do clube, vai ser um cortejo histórico. O Homem da Meia-Noite não é mais só de Olinda. É de Pernambuco, é do Brasil. As pessoas precisam sentir a atmosfera que ele passa”, diz Luiz Adolpho Botelho, de 54 anos, e há 15 presidente da agremiação.


Este ano, o Clube de Alegoria e Crítica carnavalesco traz o tema “Voz do Morro”. Os homenageados são a cantora Lia de Itamaracá, o cantor, percussionista e dançarino Lucas dos Prazeres e o grupo Patusco.


“É um tema muito especial, simbólico. Nos acostumamos a precisar gritar para sermos ouvidos. A nossa intenção com a escolha é fazer com que as pessoas passem a ouvir, a entender mais as outras”, declara Luiz.


Na celebração, o parabéns fica por conta das crianças do Centro de Reabilitação e Valorização da Criança (Cervac), que fica no Morro da Conceição. Ocorre ainda a entrega da roupa do gigante, confeccionada por três jovens estilistas, criadas nas periferias de Olinda.


“A entrega será feita em um caixote, pois a revelação da roupa só acontece no dia do desfile oficial, durante o carnaval”, explica o presidente.


Assim como o Morro possui uma ligação religiosa com Nossa Senhora da Conceição, o Homem da Meia-Noite também é ligado a religiosidades. É tido como uma figura mística, além de um símbolo cultural.


“Quando a gente abre a sede, tem pessoas que entram e fazem orações. Costumo dizer que o desfile é quase uma romaria, pois saímos com uma orquestra e 50 passistas, mas a multidão passa cerca de meia hora caminhando atrás sem ouvir mais música, só seguindo”, conta Adolpho.


A misticidade em si faz parte do ritual de saída do Homem da Meia-Noite. “Existem detalhes que foram construídos ao longo do tempo e que nós preservamos. Não posso falar muito, pois é algo pessoal da agremiação. Mas existe, sim, um brinde, um grande pedido de proteção que antecede o desfile. E só quem brinda pode trocar a roupa do Calunga”, afirma o presidente.




A história


A data do aniversário do Homem da Meia-Noite, 2 de fevereiro, também carrega um simbolismo: é o dia de Iemanjá. No entanto, há duas datas de fundação, ambas de 1932. A outra é 7 de janeiro. Segundo o presidente, 7 é a data de surgimento da instituição; e 2, o nascimento da imagem do mito.



É sabido que o Homem da Meia-Noite surgiu de uma dissidência da Troça Cariri de Olinda, quando seis membros decidiram sair por conta de divergências políticas. Sobre a origem do Calunga, duas versões norteiam a história, as quais são contadas a partir de relatos de admiradores, historiadores e parentes dos fundadores.


O presidente explica que a primeira versão conta a história de Luciano Anacleto de Queiroz, um dos fundadores. “Luciano teria visto um filme chamado ‘Ladrão da Meia-Noite’, sobre um homem que sai de dentro de um relógio à meia-noite e causa pânico na cidade e, encantado com o personagem, teria criado o Homem da Meia-Noite”, conta.


Já a segunda, provém do carpinteiro e músico Benedito Bernardino da Silva, que é o autor do hino do Homem da Meia-Noite e também um dos fundadores.



“Ele teria visto um homem alto, elegante, de chapéu preto e dentes de ouro durante algumas madrugadas. Até que um dia decidiu seguir este homem e descobriu que se tratava de um Don Juan, que pulava as janelas das moças para namorar”, relata o presidente do Clube.

Para Adolpho, o fato de haver duas versões da história ajuda a sustentar a áurea mística e misteriosa que envolve o calunga. “Dá um colorido, mais vida a essa história”.

Antigamente, o Homem da Meia-Noite entregava uma chave ao Cariri de Olinda, como símbolo de continuidade da abertura do carnaval. Hoje em dia, o Calunga ainda passa na frente da sede do Cariri, no Largo do Guadalupe, mas não há mais a entrega.


“Com o crescimento e as transformações dos carnavais, e também por questões de segurança, não é mais como antes. O Cariri não sai mais de imediato quando chegamos no local, só sai às 5h, mas passamos na frente todos os anos”, afirma Adolpho.



Desfiles pelo Recife

No próximo dia 2, o Homem da Meia-Noite estreia no Morro da Conceição, mas essa não é a primeira vez que desfila pelo Recife. O Calunga já chegou a fazer um desfile de 32 km, saindo de Olinda e passando pela Estrada de Belém, no bairro de Campo Grande, na Zona Norte do Recife. Hoje, o percurso oficial é de 3 km.


“É um percurso relativamente curto, mas, devido à multidão, o desfile chega a durar umas quatro horas. Eu, como presidente, gostaria que passasse em frente à casa de todo mundo, mas é uma decisão que cabe aos órgãos competentes”, diz Adolpho.


Na meia-noite do Sábado de Zé Pereira, o Calunga sai da Estrada do Bonsucesso, onde fica sua sede, passa pela rua do Amparo, Quatro Cantos de Olinda, Ribeira, Rua de São Bento, Treze de Maio, Largo do Guadalupe, e retorna para o Bonsucesso.




Serviço




Cortejo do Homem da Meia Noite


Sábado (2), às 16h


Morro da Conceição, Recife


Aberto ao público

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