quinta-feira, 25 de julho de 2019

'Foi uma verdadeira cena de guerra', diz moradora de área atingida por deslizamento de barreira

Moradores de Caetés 2 e do Passarinho, na RMR, relatam o drama e o medo após os deslizamentos durante a madrugada



O relógio marcava 2h30 quando alguns moradores do Córrego da Areia, no bairro de Caetés II, em Abreu e Lima, foram acordados pelo estrondo ensurdecedor de uma barreira desabando. O técnico de enfermagem Jailson Lins mora no alto do morro, mas, por sorte, não estava em casa quando a barreira começou a cair. Tinha ido trabalhar antes do acidente, mas retornou por conta das chuvas. Quando chegou, descobriu que havia perdido um amigo. E que uma amiga estava desaparecida. Luiz Henrique, 15 anos, morreu no desabamento, e a irmã dele, Maria Eduarda, de 21 anos, foi soterrada, grávida de 8 meses, até então não encontrada.

Na comunidade, os moradores formaram uma corrente para levar baldes cheios de lama, de mão em mão, até a pá de um trator. Após quatro vítimas fatais, a população permanecia esperançosa em encontrar a jovem ainda com vida. O técnico de enfermagem conta que os moradores iniciaram as buscas nos destroços por volta das 3h30, pouco depois de saberem que colegas haviam sido soterrados. Quem não participava do trabalho braçal, distribuía comida e café aos que precisavam de energia para seguir as buscas.


Para Marcílio Filomeno da Costa, também amigo da família, a ficha ainda não caiu. “Estou ajudando participando das correntes até a gente achar ela. Eu conhecia a família inteira. Eu ainda estou meio abalado e só vou acreditar que aconteceu quando eu passar e não vir mais ninguém que morava ali.” Por enquanto, Marcílio mantém a mente focada em retirar o máximo de barro que conseguir. “É um consolo para a gente e para a família ajudar a tirar tudo isso daqui.” Das vítimas fatais, duas eram irmãos de Maria Eduarda: Luiz Henrique e Mariana Xavier, 18 anos. A jovem perdeu também o pai, Silvano, 39, e um vizinho, Adalmir Ferreira dos Santos, 50. A mãe foi socorrida com vida e levada para o Hospital Miguel Arraes, onde permanece internada. 

No Passarinho, Zona Norte do Recife, a casa de seu Natal e dona Vanda, como eram conhecidos Natalício Vicente da Silva, 69, e Ivonete Maria da Silva, 63, ficou completamente destruída quando a barreira deslizou. A cadela Princesa foi quem alertou a vizinha Adriana de Souza Soares, 41. “A gente acordou com um barulho e voltou a se deitar. Mas a cachorrinha não parava de latir. Quando vi, estava tudo caído”, recorda. “Uma verdadeira cena de guerra”.

Os vizinhos acionaram o Corpo de Bombeiros, que levou os corpos ao Instituto de Medicina Legal do Recife (IML), no bairro de Santo Amaro. O desmoronamento, que por pouco não atingiu outras casas, assustou os moradores da localidade, onde a tensão é constante. “A gente vai dormir o mais tarde que pode, porque pensa que, se acontecer alguma coisa e estivermos acordados, podemos correr. Aqui [o aluguel] é um barato que sai caro”, comenta Adriana. O casal tinha três filhos, dois homens e uma mulher, e três netas pequenas.




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