sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Aquecimento global transforma oceanos em ameaça para a humanidade

Se a humanidade quiser evitar o pior, deve reformar rápida e profundamente seus modelos de produção e de consumo




Devastados pelo aquecimento e a contaminação provocada pelo homem, os oceanos estão prestes a desatar toda a sua força contra as populações, adverte a ONU em um rascunho que será adotado na semana que vem.

"Todos os habitantes do planeta dependem direta ou indiretamente dos oceanos e da criosfera" (calotas polares, banquisas, geleiras e terras congeladas), adverte na introdução este projeto que será estudado a partir de sexta-feira, em Mônaco, por cientistas e diplomatas dos 195 Estados-membros do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU.

A síntese do informe de 900 páginas, obtida pela AFP em agosto, apresenta um panorama sombrio sobre o estado das superfícies marinhas, que cobrem mais de 80% do planeta.

Sua principal constatação: se a humanidade quiser evitar o pior, deve reformar rápida e profundamente seus modelos de produção e de consumo.

Segundo o Acordo de Paris de 2015, o mundo se comprometeu a limitar o aumento das temperaturas no planeta abaixo de 2ºC e a 1,5 ºC, se possível, com relação à era pré-industrial.

Mas mesmo se os países respeitarem os compromissos de redução de emissões, o aquecimento seria de +3ºC. Atualmente, a Terra já aqueceu 1ºC e os impactos já são sentidos, com a multiplicação de fenômenos extremos, como tempestades, inundações, calor extremo e secas.

Os oceanos e as zonas congeladas são as áreas mais vulneráveis. Desde meados do século XIX, os mares absorveram mais de 90% do calor suplementar gerado pelos gases de efeito estufa, produzidos pelo homem.

Sem eles, o aquecimento poderia ter chegado a +10ºC, segundo uma estimativa de Katharine Hayhoe, climatologista e diretora do Centro Climático da Universidade Texas Tech.

Resultado: "alguns dos impactos das mudanças climáticas nos nossos oceanos são agora irreversíveis e outros são cada vez mais inevitáveis", segundo Melissa Wang, cientista do Greenpeace International.

"No ritmo atual de emissões, liberamos um milhão de toneladas de CO2 nos oceanos todas as horas", acrescenta.

280 milhões de deslocadosNo total, os oceanos absorveram cerca de um quarto dos gases de efeito estufa produzidos pelo homem, provocando uma acidificação da água do mar nefasta para a cadeia alimentar.

O informe insiste, ainda, nos impactos em cadeia que vão acabar por afetar todas as populações do planeta.

"Dos arrecifes de coral aos mangues, passando pelas populações de peixes, as mudanças climáticas e as pressões humanas destroem rapidamente o capital necessário para a vida e os meios de subsistência de centenas de milhões de pessoas no mundo", segundo John Tanze, da WWF.

Os cientistas do IPCC vão analisar, ainda, o futuro das regiões congeladas que, junto com as zonas nevadas, contêm mais de 70% da água doce do mundo.

Com o degelo das calotas polares da Antártica e da Groenlândia, o nível dos mares seguirá aumentando, multiplicando os eventos extremos como as inundações, especialmente em pequenas ilhas e em megalópoles costeiras.

E mesmo que o mundo consiga limitar o aquecimento a +2ºC, as águas poderiam submergir os territórios onde vivem hoje 280 milhões de pessoas que terão que se deslocar, segundo o rascunho.

"Passaremos de um mundo dotado de um oceano estável a um mundo em que (o nível do mar) aumentará permanentemente, ameaçando a costa durante séculos", segundo Ben Strauss, diretor do centro de pesquisas Climate Central.

As geleiras, que regulam o aporte em água das regiões montanhosas, também estão em risco, como algumas dos Alpes, que poderiam perder 80% de seu volume até o fim do século.

Entre 30% e 99% do permafrost - superfícies congeladas que cobrem um quarto das terras do hemisfério norte - também poderia derreter, liberando na atmosfera milhões de toneladas de CO2 e acelerando ainda mais o aquecimento.

O resumo do informe será abordado em Mônaco e as formulações poderiam mudar antes de sua publicação, em 25 de setembro, mas não os dados científicos nos quais se baseia.
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