O copiloto do voo 4U9525 da Germanwings Andreas Lubitz tinha
pesadelos com acidentes de avião, reclamava da pressão, das condições de
trabalho e do salário na companhia e planejava "fazer algo" que levaria
todo o mundo a conhecer seu nome. As revelações foram feitas por sua
ex-namorada Maria W., aeromoça da mesma empresa que por cinco meses
também voou com o jovem em rotas pela Europa. Ela confirma que o acusado
de derrubar o Airbus A320 e matar 150 pessoas na terça-feira (24) tinha
problemas psiquiátricos e fazia tratamento.
A entrevista foi concedida ao jornal sensacionalista alemão Bild. Maria,
de 26 anos, disse ter se chocado com a informação do procurador da
República de Marselha, na França, Brice Robin, que na quinta-feira
acusou Lubitz de ter destruído o avião de forma deliberada. A jovem diz
então ter se lembrado de uma conversa que lhe parecera banal com o
ex-namorado. "Um dia eu vou fazer algo que vai mudar o sistema, e todo
mundo conhecerá meu nome e se recordará", teria dito o copiloto.
Na visão de Maria, seu ex-namorado pode ter tomado a iniciativa de
cometer o ato suicida, provocando a morte de outros 149 pessoas, "porque
compreendera que, por causa de seus problemas de saúde, seu grande
sonho de ser um empregado da Lufthansa, como capitão e piloto de voos de
longa duração, era praticamente impossível". A jovem revelou ainda que
Lubitz tinha pesadelos nos quais sonhava que estava caindo durante um
voo. "À noite, ele se acordava e gritava: 'Nós estamos caindo!'",
contou.
Além disso, o copiloto também demonstrava irritação com as condições de
trabalho na Germanwings. "Nós sempre falamos muito do trabalho. Nessas
horas, ele se tornava outra pessoa e ficava irritado sobre as condições
de trabalho, da falta de dinheiro, do medo por seu contrato, da pressão
excessiva", disse Maria.
Lubitz também teria demonstrado seus problemas psiquiátricos em
discussões do casal, quando o jovem perdia o controle e gritava. "Estava
cada vez mais claro que ele tinha um problema", relatou, explicando a
razão do fim do relacionamento. "Ele era capaz de esconder dos outros o
que realmente acontecia com ele", disse a aeromoça, lembrando que o
copiloto "não falava muito de sua doença, apenas que ele seguia um
tratamento psiquiátrico por causa dela".
Apesar das revelações, Maria diz que considerava Lubitz "gentil e
aberto" no ambiente de trabalho e "muito doce" na vida privada. "Era
alguém que precisava de amor", disse.
A ação deliberada de destruir o Airbus A320 foi revelada pelas gravações
do Cockpit Voice Recorder (CVR), a caixa-preta que registra os sons da
cabine, localizada em meio aos destroços, ao sul dos Alpes da França. O
equipamento revelou que Lubitz teria se aproveitado de um momento de
ausência do comandante na cabine para trancar a porta, impedindo o
retorno do chefe do voo. Então teria programado o avião para perder
altitude até o choque, segundo as investigações do procurador Brice
Robin.
Buscas realizadas pela polícia da Alemanha em um apartamento do jovem,
em Düsseldorf, e na casa de seus pais, em Montabaur, resultaram na
apreensão de documentos médicos que revelaram que Lubitz não apenas
tinha problemas psiquiátricos e passava por um tratamento, mas havia
consultado pela última vez em 10 de março e tinha uma licença de saúde
que determinava seu afastamento do trabalho, inclusive na terça-feira,
dia do crash.
A companhia Germanwings disse não ter sido informada do atestado médico.
Ainda assim, cresce na Europa a controvérsia sobre se a Lufthansa, a
holding que controla a empresa low cost para a qual o jovem trabalhava,
não teria sido relapsa no acompanhamento do estado de saúde mental de
seu funcionário. A questão deve ser decisiva em uma provável disputa
judicial com as famílias de vítimas do voo 9U9525.
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