quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Representante muçulmano no Brasil condena ato de terror na França: “Foi uma barbárie”

Mariana DantasDo NE10
“Os extremistas não representam nem 0,5% da população muçulmana, mas os rótulos e o desconhecimento da nossa religião acabam contribuindo para aumentar essa intolerância, disse Ali Zoghbi / Foto: Divulgação
“Os extremistas não representam nem 0,5% da população muçulmana, mas os rótulos e o desconhecimento da nossa religião acabam contribuindo para aumentar essa intolerância, disse Ali ZoghbiFoto: Divulgação
Para Jorge Mortean, a intolerância religiosa não vem sendo combatida de forma eficienteO ataque de três homens armados à sede da revista francesa Charlie Hebdo, na manhã desta quarta-feira (07), que resultou na morte de 12 pessoas, foi repudiado pela Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras). Em entrevista ao NE10, o vice-presidente da entidade, Ali Zoghbi, afirmou que não só no Brasil, mas as autoridades religiosas muçulmanas de todo o mundo discordam desse tipo de barbárie, como denominou. “Os princípios do islamismo nada têm a ver com o que defende uma minoria de extremistas que utiliza o nome do islã para cometer atrocidades”, disse Ali Zoghbi. 


O representante das Fambras lembrou ainda que um em cada quatro pessoas no mundo é mulçumana e que a intolerância religiosa, principalmente na Europa, é um problema secular, mas que precisa ser combatido. “Os extremistas não representam nem 0,5% da população muçulmana, mas os rótulos e o desconhecimento da nossa religião acabam contribuindo para aumentar essa intolerância”, afirmou. Ali Zoghbi acredita que o ataque ao jornal francês pode, em um primeiro momento, aumentar a repulsa às comunidades muçulmanas que hoje residem na França. “É por isso que o Governo Francês precisa agir na integração destas comunidades, muitas vezes marginalizadas”. 

Mestre em Estudos Regionais do Oriente Médio e professor do curso de Relações Internacionais, Jorge Mortean também acredita que, apesar de possuírem cidadania francesa, os muçulmanos sofrem preconceito religioso.  “Diferentemente do Brasil, cuja população tem a influência de vários povos, a Europa foi constituída por nações pré-estabelecidas, mais fechadas, e que tiveram que buscar mão de obra em suas antigas colônias, de maioria muçulmana. Embora tenham seus direitos de cidadãos, os mulçumanos não foram absorvidos pela sociedade europeia. Existem rusgas sociais que devem ser combatidas com urgência pelo Estado. Fala-se muito em lutar contra o terrorismo, mas combater a xenofobia não é menos importante do que agir contra o terrorismo”, disse, por telefone. 

Para Jorge Mortean, a intolerância religiosa não vem sendo combatida de forma eficienteFoto: internet
Para Jorge Mortean, as crescentes manifestações de intolerância religiosa na Europa, como os atos na Alemanha, comprovam que a xenofobia não vem sendo combatida de forma eficiente.  “Esse processo inflama ainda mais a relação entre os radicais dos dois lados, os que não toleram a presença dos imigrantes por puro preconceito e os grupos extremistas religiosos. É um processo preocupante”, pontuou. 

Sobre o fato de o ataque à revista Charlie Hebdo ter sido motivado pela publicação de charges do profeta Maomé, o que é proibido segundo a religião muçulmana, o especialista afirma que nada justifica a atitude dos atiradores. “Existe uma discussão muito forte entre os que defendem a liberdade de expressão e os que acham a atitude um desrespeito, já que para o Islã a imagem do profeta Maomé não pode ser reproduzida. Na França, as charges contra os muçulmanos atingem uma classe social específica, que é alvo de xenofobia. Embora nada justifique essa barbárie praticada por uma minoria radical, é preciso observar as questões sociais desse processo”, disse. 

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