quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Rua do Lazer, 13h30

Tatiane e Luciano estão juntos há quase um ano e vivem nas ruas da cidade do Recife / Foto: Luiz Pessoa
Tatiane e Luciano estão juntos há quase um ano e vivem nas ruas da cidade do RecifeFoto: Luiz Pessoa
- Eu sou Luciano, essa daqui é minha mulher, Tatiane.

- O que houve na sua vida para você vir morar na rua, Luciano? 

- Eu trabalhava na roça, lá em Chã Grande, gostava muito, lá eu comia bem, vivia bem, tinha uma cama, cobertor, acordava cedo, ralava as mãos, calejava, mas o pessoal lá brigava muito, era um problema de família. Um dia de manhã uma mulher lá dispensou todo mundo, mas minha família tava cheia de problema também, eles são lá de Vitória, terminei vindo pra rua aqui em Recife, gastei o pouco dinheiro que tinha, fiz amizades, vejo o mundo do meu jeito, vivo aqui ao ar livre, já tive muita treta, hoje eu só quero estar de boa.

 Aqui é vida cão, tem de se ligar pra ficar ligado, tá ligado? Luciano
- O que é morar na rua pra você, Tatiane?
 
- Liberdade. Família que a gente escolhe. Tem muita gente ruim e muita gente boa. 

- Se fosse pra resumir sua vida em duas palavras o que você falaria?

- (Tatiane) Quase nada.

- (Luciano) A vida é parada dura, às vezes você faz bons aliados mas sempre tem alguém pra mexer nas suas coisas, seja uma bermuda que você deixa ali ou seja o que você come. Aqui é vida cão, tem de se ligar pra ficar ligado, tá ligado?  

Tatiane Olopes Fernanda, 24 anos, Luciano de Santos Aragão, 26 anos, ex-roceiro.


 SOBRE A SIGA A RUA

O submundo que nos rodeia é algo que passa desapercebido por muitos. O intuito desta coluna é mudar essa perspectiva. O universo da rua é algo prolixo e controverso, das belezas arquitetônicas erguidas às histórias pessoais mais diversas, de amor, ódio, desprezo, loucura e desapego.

Tenho conversado com pessoas que retratam narrativamente essa vida sofrida e extraio dessas conversas seus pontos cruciais de externação sobre estas experiências, às vezes tão sórdidas e amargas, que me remetem a uma reflexão interna. É isso que quero trazer; uma contemplação de uma realidade dura e crua que nos fortaleça mediante às adversidades.

Os textos que posto a seguir são verídicos, histórias narradas e gravadas que uso como base para a minha pesquisa. Muitos são abordados por curiosidade e empatia, outros quase que ao acaso. Não escrevo conclusões por achar que o leitor sentirá a necessidade de fazer por si próprio. Agradeço a todos que lerem e se sentirem atraídos pela proposta deste veículo e, se se sentir à vontade, utilize a hashtag #sigaarua nas redes sociais, para que possamos disseminar esse conteúdo e que todos vejam a realidade que nos circunda e continua, até então, invisível.
*As colunas assinadas não refletem, necessariamente, a opinião do NE10

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