Isabelle FigueirôaDo NE10

Ana Paula (e) muda-se com a família para o Cais de Santa Rita nesta época de Natal desde os 13 anosFoto: Isabelle Figueirôa/ NE10
Eu não imaginava que no início de novembro já haveria famílias nas ruas do Recife pedindo doações de Natal. (Talvez elas sigam a lógica capitalista do comércio de antecipar as comemorações para aumentar as vendas). No ano passado, a repórter Mariana Dantas e eu estivemos naquela calçada dos armazéns do Cais de Santa Rita, no Centro do Recife, e conversamos com Ana Paula da Cruz, de 38 anos. Era dia 23 de dezembro e nos emocionamos com o relato sofrido de uma mãe que desde os 13 anos passava seu Natal naquele lugar.
Hoje, voltei ao local e, para minha surpresa, encontrei mais uma vez aquela mulher de corpo magro, olhos verdes, cabelos crespos assanhados e dentes estragados, arrodeada por crianças. "Vim mais cedo esse ano porque não apareceu nenhuma 'oia' (bico) pra mim trabalhar", antecipou-se ao lembrar-se de mim.
Com menos de 40 anos, segundo ela, mãe de nove filhos, avó de dois netos e irmã de uma grávida de nove meses - todos dividindo menos de trinta metros quadrados cobertos por um plástico preto -, Ana Paula se muda para aquele local todo fim de ano, mesmo tendo uma casa alugada por R$ 250 na Joana Bezerra, região central do Recife.
Com menos de 40 anos, segundo ela, mãe de nove filhos, avó de dois netos e irmã de uma grávida de nove meses - todos dividindo menos de trinta metros quadrados cobertos por um plástico preto -, Ana Paula se muda para aquele local todo fim de ano, mesmo tendo uma casa alugada por R$ 250 na Joana Bezerra, região central do Recife.
"Faz cinco meses que não recebo o Bolsa Família e preciso me virar para pagar o aluguel", disse. Ela garante que os meninos e meninas estão indo para escola. "As crianças que estudam de manhã vão para casa bem cedo, às 5h, para tomar banho e pegar o material da escola e ir pra aula. As que estudam de tarde, saem umas 11h e fazem a mesma coisa", disse.
A secretária de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife, Ana Rita Suassuna, explica que "o benefício do Bolsa Família só é bloqueado se o responsável não cumprir as condicionalidades, pois a criança precisa ter acompanhamento escolar e da rede de saúde, além de atualização cadastral a cada dois anos".
Ana Paula nunca teve carteira assinada, estudou até a antiga 5ª série e já fez bico de doméstica, garçonete e serviços gerais em hotel. Antes de qualquer pensamento condenatório, tentei saber dela o que a faria mudar de ideia e não expor mais os filhos àquela situação. "Emprego", foi a resposta.
Entre crianças de 6 meses a jovens de 17 anos, ela disse que quer mesmo é uma cama, já que dorme com os nove filhos no chão. "Esse é o último ano que faço isso. É muita violência aqui. Eu não quero perder meus filhos, mas eu preciso pagar o aluguel e essa é a época que as pessoas mais doam", garante.
DOE NO LUGAR CERTO - A campanha permanente da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife é justamente para controlar esse tipo de situação na cidade. "Não doe no sinal, porque não é o lugar certo", reforça a secretária-executiva de Assistência Social, Geruza Felizardo.
Ana Paula nunca teve carteira assinada, estudou até a antiga 5ª série e já fez bico de doméstica, garçonete e serviços gerais em hotel. Antes de qualquer pensamento condenatório, tentei saber dela o que a faria mudar de ideia e não expor mais os filhos àquela situação. "Emprego", foi a resposta.
Entre crianças de 6 meses a jovens de 17 anos, ela disse que quer mesmo é uma cama, já que dorme com os nove filhos no chão. "Esse é o último ano que faço isso. É muita violência aqui. Eu não quero perder meus filhos, mas eu preciso pagar o aluguel e essa é a época que as pessoas mais doam", garante.
DOE NO LUGAR CERTO - A campanha permanente da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife é justamente para controlar esse tipo de situação na cidade. "Não doe no sinal, porque não é o lugar certo", reforça a secretária-executiva de Assistência Social, Geruza Felizardo.
Não doe no sinal, porque não é o lugar certo. Geruza Felizardo, secretária-executiva de Assistência Social
A assistente social lembra que o número de famílias nas ruas do Recife aumenta em 40% nessa época do ano. "Queremos estimular as pessoas a não doarem nas ruas, porque fortalece a permanência dessas famílias nas ruas. Elas têm moradia, mas vão para as ruas porque sabem que as pessoas se sensibilizam nesta época do Natal. O importante é a gente reforçar essas doações nas instituições", esclarece a secretária Ana Rita Suassuna.
A prefeitura mantém o Transforma Recife, uma plataforma que conecta organizações e voluntários, a fim de tornar o Recife uma cidade mais solidária. No site existem dezenas de ONGs cadastradas que recebem donativos durante o ano inteiro.
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PARA NÃO PASSAR EM BRANCO - Este será o terceiro Natal que uma garota de 12 anos que estuda o 7° ano na rede pública de ensino, vizinha de Ana Paula, passará na rua. Com uma garrafinha de água e rodo nas mãos - para limpar os para-brisas dos carros no sinal - ela confessa que não gosta de fazer aquilo. "O que eu queria tá fazendo agora? Eu queria era tá brincando na praia", disse. Sobre seu futuro, a menina tem na ponta da língua o que deseja para essa época do ano. "Eu só quero coisas boas pros meus filhos e que o Natal deles não passe em branco".







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