
Renan Paiva fala em desistir de jornalismo, porque não consegue pagar mensalidades de R$ 485
A notícia de que o Ministério da Educação (MEC) encerrou a liberação de verba para novos contratos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) obrigou estudantes rio-pretenses a desistir do sonho do diploma do ensino superior. Os que não trancaram matrícula ainda tentam uma última cartada para conseguir descontos. "Ficaram de me dar a resposta amanhã (hoje). Estou aguardando ansiosamente. Se não conseguir o desconto terei de trancar o curso. Não tenho como pagar", afirmou o repositor de supermercado Renan Contrera de Paiva, 19 anos. Ele paga mensalidade de R$485 no curso de Jornalismo da Unilago, em Rio Preto.
Criado em 1999 no governo de Fernando Henrique Cardoso e ampliado no governo Lula, o Fies é a esperança de jovens de classe média e baixa de conseguir a graduação no ensino superior. O Fundo, porém, sofreu redução de quase 50% na quantidade de novos contratos firmados entre o primeiro semestre de 2014 e o primeiro semestre de 2015. Segundo o MEC, a queda foi de 480 mil no ano passado, para 252 mil neste ano, o equivalente a 47,5%. Só esses contratos já teriam consumido os R$ 2,5 bilhões destinados a novos contratos.
Paiva era o típico estudante que não teria dificuldades em conseguir o financiamento. Ganha R$ 600 por mês e a renda familiar está dentro dos limites do programa. Na simulação que fez, conseguiria 75% de financiamento. Só na teoria. Na prática, ele entrava no site do programa e encontrava a informação de que o limite já estava esgotado, desde o primeiro dia de inscrições, em fevereiro. Em janeiro, ele parcelou em três vezes a primeira mensalidade, de R$ 485, pediu a ajuda do pai para pagar a segunda e também parcelou a terceira.
O rio-pretense Oscar Marcelo Zoccal Jacometti, 21 anos, aluno de medicina da Faculdade Barão de Mauá, em Ribeirão Preto, também não conseguiu financiamento. A mãe dele, a autônoma Daniela Zoccal, 38 anos, conta que é o segundo ano que tenta o financiamento da mensalidade, hoje de R$ 5.943,00. "Fies para medicina não existe.
Para mim, essa verba nunca existiu. Meu filho não conhece ninguém que conseguiu esse ano. Entrei no site dia e noite para tentar fazer a inscrição e cada hora dava um erro. Já abri cinco protocolos de reclamação no MEC. O problema é que o próprio MEC coloca no edital que o curso tem Fies, o que não é verdade", afirmou a autônoma.
Daniela Zoccal protesta com a família, depois de tentar inúmeras vezes um contato com o MEC para o filho continuar os estudos de Medicina em Ribeirão Preto
Mais de 250 mil ficaram de fora
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) encaminhou ontem à Presidência da República um ofício para pressionar o governo a disponibilizar mais recursos para novos contratos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Ontem, o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, afirmou que a verba para o programa está esgotada. Mais de 250 mil interessados ficaram de fora das inscrições na etapa atual.
Sob argumento de que o governo "não pode fazer ajuste fiscal na educação", a OAB não descarta recorrer ao Supremo Tribunal Federal para obrigar o governo a realizar uma realocação orçamentária para o programa.
"O Judiciário não pode exigir que o governo monte um programa. Mas ele existe, cria expectativas na sociedade. Pessoas se organizam de acordo com o programa. É inadmissível que um país negue o direito de estudo", afirma o presidente da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coelho.
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